20/04/09

Capítulo XII

Foi o piscar de olhos mais longo da minha vida, estou convicto, embora não tenha por hábito contar quantas vezes os outros piscam os olhos nas suas vidas, quanto mais agir dessa maneira na minha, mas lá que me marcou, acho, não, não acho, tenho a certeza de que sim, foi um piscar de olhos que me marcou e a prova é que não me esqueci dele: durou o suficiente para constatar, pelo canto do olho, o canhoto, nas entrelinhas do diálogo abafado, sinuoso, que não me chegava do plasma, era certo, a mão de Ariel, subtil, arraposada, ágil, a deslizar pelo entre-pernas do meu amigo.

Esse sim, esse momento, fora a gota no copo da água, ou melhor, nos olhos vidrados de Chivas, Antíqua, Pilsener, Dom Perignon, etcoetara. Pisquei os olhos e fechei-os, mergulhando quase de imediato na inconsciência; quando os voltei a abrir, estava sozinho.

A miúda e o Hel, abandonando-me ao torpor alcoólico da cama onde ele, solícito, me deitara, haviam-me deixado só, completamente, os bastardos, tinham-se pirado sem dizer água vai e sabe-se lá para onde. Ergui a cabeça a custo, sentei-me na borda da cama, mastiguei em seco, a boca a saber-me a papéis de música e acendi um cigarro, mal disposto, carrancudo.

Lá fora, a chuva, miúda, pontuava o ritmo da minha respiração, também ela inconstante. Estava mal, estava acordado, tinha fome, e fora levado, como um principiante. Para além disso, sentia sede; a minha garganta estava mais desértica do que o Saará, nem uma gotinha de saliva, tinha de beber qualquer coisa, tinha mesmo.

Então, pus-me outra vez a mastigar em seco, ainda sentado na borda da cama, apalpando os bolsos, certificando-me de que não faltava nada, tentando organizar as ideias, orientar-me num ambiente que, não me sendo totalmente estranho, também não me era conhecido de todos os dias. Os estupores, reflecti amargamente, erguendo-me, escorregando de novo na borda do leito, procurando avidamente novo cigarro, alguma coisa que me tirasse aquele péssimo hálito, alcoólico, fanado, da boca.

Os estupores, reflecti outra vez, desta feita, com um timbre vingativo. Respirei fundo. O pior de tudo é que não tinha escova de dentes. Bem, poderia usar a do Hel, mas isso até a mim me metia nojo, quanto mais conjecturar sobre o tema. Respiguei o couro cabeludo, fiz caretas, de boca ainda completamente enxuta, abrindo o olho direito, focalizando ambos e procurando racionalizar a situação. Precisava de comida, era o que era.

Pelo menos, alguém se lembrara de deixar uma luz acesa. Já não era mau de todo. Ergui-me, resoluto, dei a volta à cama e passei pela mesa onde o Hel assentara o seu plasma novinho em folha. Sabugo, tantos queixumes e até dava para uma plasma large screen, sabugo.

Uma campainha de alarme saltou e lembrei-me das minhas chaves, onde estariam? Fora ali mesmo, na mesa do plasma, que as pousara, juntamente com as chaves do R7 do Hel; essas, lá estavam mas, das minhas, nem sinal.

Caramba, queriam ver que o Hel, pensei, que o Hel…, refocilei, mais e mais arreliado, sanguinolento, desconfiado, ressacado, vingativo. Por baixo das chaves dele estava um papel, notei, um papel encimado por um título, «Pa ti, Lúcio!». Sacudi a cabeça, peguei no papel e reconheci a caligrafia. Obviamente, fora rascunhado à pressa, obviamente. Pois sim, sabia de alguém que me devia sérias explicações. Aproximei-me do candeeiro e pus-me a decifrar o conteúdo da mensagem: «Meu caro, levei o R6, sorry, “ela” queria ir passear, apanhar ar… Abraço, voltamos antes de ser dia». Pulha, mil vezes pulha, o canalha, aquele sabugo levara-me o carro e, não satisfeito, a miúda também.

Havia de pagá-las, ó se havia, murmurei, enraivecido, sentindo-me tentado a atirar com a porcaria do plasma ao chão; foi uma sorte não o ter feito mas lá me controlei, amarrotei o papel, deitei-o para o chão, enfiei as chaves do R7 no bolso e dirigi-me à cozinha.

Comida. Comida e bebida, precisava de ambos, antes de decidir qual o curso de acção mais adequado a tomar, face àquela traição insofismável. Abri o frigorífico e dei de caras com uns restos de carne assada, com brócolos e batatinhas. Maravilha, alguém iria ficar sem almoço no dia seguinte, mas isso não me dizia respeito, ladrões de engates e de automóveis não me mereciam qualquer consideração. Tirei a travessa do frigorífico, borrifei tudo com maionese, duma gaveta saquei guardanapos e encaminhei-me para a saleta onde o Hel guardava a sua recém-adquirida garrafeira pessoal. O pulha ia pagá-las, ó se ia, e com todos os juros. Abri o armário e pus-me a retirar garrafas; por fim, lá encontrei uma pérola: “Duas Quintas”, tinto, reserva de 74. Mas havia mais, havia mais. A última de todas las botellas era uma surpresa, até para mim: Marquês de Rioja, branco, 1983. Mau, o menino esmerara-se, afinal a bolsa de estudos dele não devia ser má de todo, ou isso, ou andava muito poupadinho: só entre aquelas duas garrafas, por alto, não contaria menos do que um mês de salário no Ministério.

Porreiro, a vingança servia-se a frio; tudo era perfeito, reflecti, casquinando, a única coisa que me faltava era um saca-rolhas. Ávido, enfiei pela garganta uma fatia de carne assada, certificando-me de que deixava escorregar para o chão uma generosa dose de maionese, com o pé fiz questão de a esborratar em várias direcções, fui à cozinha, voltei com um copo e com um saco rolhas, sorri, abri ambas as garrafas, deixei-as respirar, e servi um copo a transbordar: “Duas Quintas”, parecia-me prometedor, para começo de vingança. Sentando-me no chão, dediquei todas as atenções ao meu repasto de carne assada com batatinhas, brócolos e maionese, regando-o profusamente com o “Duas Quintas”. Ah, como era belo o mundo, como era bom o vinho do Hel!

Eles haviam-me deixado, algo que não se fazia, reflecti enquanto mastigava e empurrava com o vinho; haviam-me deixado, completamente amassado e com um peso na cabeça maior do que o cume do Evereste, mas agora estava a recuperar, fruto do calor do “Duas Quintas”, do gostinho das batatinhas e da carne assada, dos brócolos fresquinhos, degustando, recuperando, reflectindo, sentindo-me renovado, outra vez bem-disposto, pronto para mais um round. Ah, iam pagá-las, ó se iam! O vinho era bom, mentira, não era bom, era supimpa, do melhor que me fora dado a provar nos últimos meses!

Satisfeito, emborquei o último resto da garrafa, dei à consideração do estômago o último resto da carne assada, poisei o prato, busquei um cigarro, acendi, inspirei uma longa passa, e senti-me bem, recomposto, feliz, lúcido. A única chatice era que estava todo sujo de maionese; tinha os dedos peganhentos.

Poisei o cigarro directamente no soalho, fazendo figas para que deixasse marca antes de se consumir, e contemplei a garrafa de Marquês de Rioja. A última vez que cobiçara uma daquelas fora em Bordéus, era ainda novo, há uns dez anos, na companhia do meu pai. Por falar nisso, o velhote não andava bem ultimamente.

Estava na minha casa, chegara estafado da viagem ao estrangeiro e viera acoitar-se comigo. Eu não era um bom filho. Desde que ele chegara, passara no máximo dez minutos com ele. Abrira-lhe a porta, três dias antes, indicara-lhe o armário das toalhas e dos lençóis, o quarto que reservara para ele e, praticamente, não o vira mais desde então; sim eu não era um bom filho.

Raios fodessem o velhote, amava-o é certo e ele fazia tudo o que podia por mim, também era certo, mas… Eu não era um bom filho, na volta, nem era um bom diplomata, nem sequer um assessor digno do nome, «que estava ali apenas para servir de elo de ligação com o secretário do Ministério dos Internos»; tão pouco saberia fazer florir um bom horto de couves e, se calhar, nem um bom amigo era.

Senti-me triste. A saleta do Hel estava toda porca e eu todo sujo, todo lambuzado de maionese. Bem, ponderei, que se fodesse. Cá se fazem, cá se pagam: com que direito me levara o carro e a Ariel? Ainda se fosse só a Ariel, vá que vá, não me chatearia tanto, mas o R6! O R6?

No fio condutor desse pensamento lembrei-me duma coisa desagradável. Algo que sempre estivera presente na minha cabeça, mesmo antes de começar a beber. Ainda não estava de férias e na bagageira do R6 tinha coisas que não me podia dar ao luxo de ver extraviadas. Coisas de que necessitava no dia seguinte. Não, de facto, não podia ser assim, tinha de pensar sobre o caso, onde estaria o grandessíssimo filho dum comboio de putas? Peguei no cigarro, levei-o aos lábios e pus-me a mexer de novo para a cozinha, levando comigo a garrafa de «Marquês». Merda, tinha aberto aquela porra e não fazia tenção de a beber. Ao chegar ao lava-loiça resolvi molhar as mãos. Abri a torneira e nada, aparentemente, daquela torneira não escorria gota de água alguma; teria sido cortada? Teria o Hel problemas com a empresa de abastecimento de água de Cascais? Matutei ser impossível saber, encolhi os ombros e ainda tentei forçar a torneira, mas nada, nem uma gota. Paciência, ponderei, já que abrira a garrafa de «Marquês», branco, convinha não ser racista e aproveitá-la.

Sorri: para alguma coisa o velho néctar dos deuses que os espanhóis desde há séculos apuravam serviria. Contemplei a garrafa, o rótulo a torneira sem água e decidi-me. Lavei as mãos, à grande, à aristocrata; era vinho branco pela pia, pelos armários, pelo chão da cozinha. E o cheiro, oh, e o cheiro!

Comecei a senti tonturas, vertigens, pior, a sentir tonturas e vertigens acompanhadas por cãibras nos intestinos. Felizmente, intui o caminho para o quarto de banho. Arreei as calças e sentei-me, aliviado. Ali fiquei, tranquilamente, de novo sóbrio, inspirando, expirando, às escuras, aliviando-me, lentamente.

Assim me encontrava, quase sereno, quando ouvi barulho vindo da porta. Alguém tentava entrar, com pouco talento, já se sabia, o Hel deveria vir bêbado, só podia. Limpei-me, não puxei o autoclismo, puxei as calças e meti-me à escuta, pronto para os surpreender. Diabo, o Hel devia vir mesmo grogue, não atinava com a fechadura nem por nada.

Finalmente, a porta da rua abriu-se e entraram. Mantive-me imóvel, que risota seria quando os surpreendesse… Caminharam ligeiros pela sala de entrada, bateram pelo quarto e pela saleta e estacaram na cozinha. Eu era só risos, deviam estar admirados de não me encontrarem. Sentia-os, pregados na cozinha, e eu, ainda, no quarto de banho, às escuras. Sorri de novo, já iriam ver o gostinho que o fado tinha, eheheh…

Então, ouvi uma voz que não era a do Hel nem, tão pouco, a de Ariel: «Não está ninguém, devem ter ido todos juntos!» Aquela voz masculina não era a do meu amigo, algo estava errado, quem seriam aqueles tipos? Agachando-me, espreitei: da meia luz que vinha da cozinha, descortinei dois homens, dois brutamontes e um deles conhecia-o de ginjeira de outros carnavais: era o “tubarão”, por causa do seu proeminente maxilar, o lava-copos, o adjunto do bartender do 23, que fazia aquele melro ali?

Tive medo e quase dava tudo a perder quando recuei, embatendo quase surdamente na sanita, assustado. Não ouviram, felizmente. Procuravam alguma coisa ou alguém, não percebia nada, aqueles dois eram da pesada, isso percebia, percebia até bem demais. «Que grande farra, olha para isto, é vinho pelas paredes e tachos pelo chão, que grande farra, que grande farra!» grasnou o baixote, guloso, patacoando para aquele que eu conhecia como o «tubarão». Este, bem pelo contrário, continuava imóvel, estacado no centro da cozinha, avaliando as proximidades, snifando, com cara de quem pusera os seus dois únicos neurónios a funcionar, todo ele aspirador, com tromba de elefante enjoado: «Esse cabrão do Lúcio! Enganou-nos, deve ir também no carro, filho da puta! Vamos embora, atrás deles, o chefe já os tem na mira, ‘bora!». Ao comando imperioso do «tubarão», desembestaram os dois, porta fora, a correr, cheios de pica, todos energéticos, todos Vanessa Fernandes. Deixei-me estar, ainda mal refeito, mas com o coração aos saltos. Ergui-me (merda, não fazia outra coisa que não deitar-me e erguer-me e beber e fumar), abeirei-me da porta e topei-os, dois vultos na escuridão, correndo, à Carlos Rosa Lopes Mota, a entrar numa viatura de alta cilindrada, estacionada mesmo ao lado do R7.

O carro deles arrancou, guinando, voando sobre os buracos do caminho da quinta do Hel, afastando-se numa nuvem de pó, visível até naquela noite escura com breu. Sem pensar, também eu corria, tropeçava no carreiro e não parava, entrava no R7, sacava a chave do bolso, dava à ignição e por meu turno fazia a caixa e o acelerador chiarem assustadoramente, na peugada deles. Raios, onde iriam com tanta pressa?, ponderei, mal me vi ao volante. Que história era aquela de eu ser um filho da puta? Os porcos não conheciam a minha mãe, não sabiam nada de nada, quem eram os gajos? E onde iam tão depressa? Encurvei as sobrancelhas, enruguei a testa, tentando compreender o que fazia e para onde conduzia. O R7, calmo, mastodôntico, parecia apontar-me o caminho.

Mesmo assim, tornava-se difícil de manter a perseguição, iam muito velozes, os meninos, muito apressadinhos. Levavam-me, no mínimo, uns 500 metros de avanço, só que eu queria explicações e, inflamado por tudo o que se passara, puxei pelo R7, puxei-o até ao limite: 2300 centímetros cúbicos, 117 cavalos, 1500 quilos, 7500 rotações aos 160, com ou sem pneus carecas, com ou sem tubo de escape roto, sabia muito bem como lidar com o R7, não era um principiante a conduzir mamutes, aqueles porcos pagá-las-iam, pagá-las-iam e a minha intenção não era menos ferina; pagá-las-iam, sobretudo o tal do minorca, o tal do minorca, que eu não conhecia, mas que se rira quando o outro chamara de «puta» à minha mãe.

Ninguém tinha esse direito, só eu e, talvez, o meu pai. Pensamentos desconexos furavam-me o crânio, abrindo ladeiras pela minha mente fora, mais tendenciosas do que se fossem bagaço ou Chivas à mistura com “Duas Quintas”; unindo-se a sonhos de cabelos de fogo e pele de seda. Seda a arder. Cabelos de fogo. Cútis de seda em chamas. Cabelos em labaredas, estradas a arder, Chivas, Duas Quintas e Rioja, hehehe…

Preguei a fundo, perscrutando a névoa, verificando que afinal não se haviam distanciado por aí além. Lá me fui descontraindo, levantando, de tempos a tempos, o sapato do acelerador, só para que não dessem fé de que tinha companhia, afinal, ponderei, merecia a pena ser cauteloso e o R7, simpático, também se prestava a esse papel.

Rolámos, eles à frente, eu refundido, durante uns dez minutos, eles quase fora do meu campo de visão, loucos de todo, era só potência naquele Wolkswagen Miura; mas não era páreo para o R7 do Hel, que belo automóvel. Calmamente, fui controlando a velocidade, mantendo uma distância segura. Passámos por duas rotundas, virámos, sempre à esquerda, e dei por mim a 80 quilómetros horários, numa estrada secundária, em direcção à praia do Abano, sempre atrás dos bacanos, longe, mas seguro do que fazia.

Conhecia bem a praia do Abano; estivera lá com o Hel, no Verão, mais a minha miúda da época e um amiga dele, bem boa, por sinal, que seria feito da Sofia? Subimos, eles a puxar e eu na minha, demasiados buracos e falésias a rondar. Fosse como fosse, a recta logo após era longa e, se bem que um pouco perigosa, de certo modo convidava a reflectir. Lá iam os tipos, agora mais devagar, havia outros automóveis à frente deles. Meti o ponto morto e deixei-me deslizar, não me escapariam, isso, era certo, patente qb para qualquwer otário que aquela hora se lembrasse de se sentar na borda da estrada a observar, e alguém iria pagar, o sacana do «tubarão» ou o minorca, pouco se me dava, alguém iria pagar, não tinha qualquer dúvidas disso mesmo.

Com sorte, ainda apanhava o Hel pelo caminho, afinal, estava no seu território. Também, se apanhasse por tabela, era bem feito: quem o mandara roubar-me o R6?
Ao canto esquerdo da minha visão periférica, lá no topo, o Palácio da Pena proporcionava-me coordenadas conflituantes, onde terminaria o «passeio»? Abri a janela, escarrei, cheirei o ar e senti o aroma da maresia; era curioso como o regresso duma esmagadora bebedeira me aguçava temporariamente os sentidos. Todo eu estava alerta, estava uno com o R7 do Hel, que carro maravilhoso, e pisei ainda mais no acelerador, fazendo saltar o ponteiro para os 90, sem saber muito bem ao que ia, mas sabendo, ferpeitamente, que ia, oh se ia.

No final da recta, no último segundo, travei com a caixa e a desacelerar meti por um caminho de terra batida; foi aí que me senti verdadeiramente feliz: o R7 não me deixara ficar mal, chamem-lhe instinto, mesmo a tempo de não dar de frente com o carro na traseira deles, delicioso às minhas mãos e pés, O R7 havia-se desviado, galgado a estrada, subido um caminho de terra batida e, silencioso pela primeira vez desde que o conduzia, imobilizara-se, num descampado ladeado por pinheiros, de luzes apagadas, sem chiar.

Olhei, para os outros. Também tinham parado atrás da fila indiana. Curioso. Sai do carro, tranquei-o e fui-me aproximando. Lá à frente, imobilizado, em frente a uma árvore, estava o meu carro, o meu carro!, o R6, amolgado na porta de trás, luzes de caras na árvore em que não batera por milagre; estacionados na berma da curva da estrada, outros dois automóveis, haviam desligado as luzes e vi uma série de pessoas saírem das viaturas. Entretanto, rastejando, fui-me aproximando, fazia uma escuridão tramada mas eu quase que parecia ter olhos de infra-vermelhos. Topei os meus «amigos», que tinham parado o seu Miura na linha das outras duas viaturas e que riam, sardonicamente. Por um buraco entre as nuvens, vi a cara do minorca; estampada, carregando consigo um sorriso cruel.

De súbito, julguei reconhecer o Hel e a ruiva. Esfreguei os olhos, não era possível! Ouvi vozes, outra vez o som metálico, deste feita cruel, da voz do «tubarão». Hmmm. No ar, a maresia cheirava de modo estranho, não combinava com o resto, não combinava com nada; cheirava, cheirava a mentol.

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